ESG por Eduardo Luque

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ESG é a sigla da moda, mas se engana quem pensa que ela acaba de chegar. Acrônimo, em inglês, para Ambiental, Social e Governança, cada letra congrega um amplo rol de fatores com que as empresas precisam se preocupar – e as melhores, com certeza, se preocupam. O ESG remonta pelo menos à década de 1950, quando fundos de pensão administrados por sindicatos nos Estados Unidos passaram a utilizar seus ativos para influir no ambiente social e nas comunidades.

A diferença entre o antes e o agora não está somente na popularidade e na amplitude do termo, mas também no que ele implica. Se no passado as preocupações sociais e com o meio ambiente eram atribuídas a um exercício de filantropia, no presente a ideia é que o ESG não só deve andar junto a objetivos financeiros, como contribui para alavancá-los. Ou seja, cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar boas práticas de governança não faz bem somente para o mundo, como deve também favorecer o balanço das empresas. É por essa e por outras que o ESG ganha cada vez mais força.

Para não ficar somente no abstrato, permitam-me exemplificar o que cada letra representa:

O E, de Environmental, trata do desenvolvimento sustentável e da preservação do meio ambiente, como redução do desmatamento e da emissão de gases poluentes, diminuição de geração de resíduos sólidos, eficiência energética e reaproveitamento da água.

O S, de Social, se refere à relação da empresa com as pessoas que a envolvem, como respeito aos direitos humanos e trabalhistas, inclusão e diversidade, treinamento da força de trabalho, ações de voluntariado e privacidade e proteção dos dados.

O G, de Governance, envolve a correta administração da empresa, como combate à corrupção, ética e transparência, composição do conselho administrativo, e relação com governos, políticos e entidades governamentais.

O que as melhores empresas fazem? Elas consideram vários desses temas e os relacionam às suas áreas de atuação. Uma fabricante de automóveis, por exemplo, pode tornar seus produtos energicamente mais eficientes, reduzindo a poluição da atmosfera e poupando o dinheiro de seus clientes, que conseguirão andar mais com menos combustível. Já uma companhia de softwares pode investir em escolas de programação na comunidade, qualificando jovens que, futuramente, podem ser incorporados à sua força de trabalho.

Melhor para a empresa, melhor para o mundo

Uma grande parte das empresas e fundos ao redor do mundo está considerando fatores sociais, ambientais e de governança na hora de investir e alocar recursos. No que diz respeito ao mercado global, os dados da Global Sustainable Investment Alliance de 2018 mostraram que 36% dos ativos totais estão em investimentos ESG. Já no Brasil, segundo pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 85% dos gestores de investimentos disseram usar critérios ESG na tomada de suas decisões.

Outro indício de como o ESG vale a pena é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado em 2005 como forma de induzir as empresas a adotarem práticas sustentáveis. Ele seleciona entre as 200 ações mais líquidas da B3 aquelas que melhor respondem a critérios de eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. Sua carteira teórica, veja só, apresentou rentabilidade de 294% em 15 anos, contra 245% do Ibovespa. No mesmo período, o ISE teve também menor volatilidade: 25,6% ante 28,1% do Ibovespa.

O ESG, portanto, é um assunto sério e urgente. Indagar sobre a existência de uma relação causal – as empresas que investem em ESG têm melhores resultados ou as empresas que têm melhores resultados investem em ESG? – é um bom exercício acadêmico, mas em termos de negócios não faz sentido. Independentemente da sua perspectiva, a decisão aqui é clara: invista no ESG.

Essa, contudo, não deve ser a última etapa desse processo. Feitos os investimentos, é hora de comunicá-los ao mercado – e a melhor maneira de fazê-lo é por meio do chamado relato integrado. As empresas que o adotam abordam, em um único material, tanto seus resultados financeiros como seus indicadores ambientais, sociais e de governança – Itausa e Ambev são ótimos exemplos. Para bem amarrá-los, elas fazem um exercício de reflexão e avaliam seu propósito, seu impacto no mundo e as expectativas de seus stakeholders. 

Um framework para o ESG: mensurando, reportando e comparando

Como comentei anteriormente, embora o ESG tenha ganhado evidência nos últimos anos, ele remonta, pelo menos, à década de 50. A diferença é que, no passado, as empresas e o próprio mercado atribuíam as preocupações sociais e ambientais a um exercício de filantropia e, hoje, o ESG é um alicerce fundamental das melhores organizações. Em outras palavras, ele não só faz bem para o mundo, como confere valor a uma companhia e ajuda a alavancar o desempenho financeiro e a atrair investimentos.

Tanto é assim que as melhores empresas, no Brasil e no mundo, passaram a incluir indicadores ambientais, sociais e de governança em seus processos de report – é o chamado relato integrado. A ideia é mostrar como o desempenho econômico caminha de mãos dadas com a execução do ESG, em uma sinergia entre os indicadores apresentados historicamente nas demonstrações financeiras contábeis e os conceitos de propósito, missão, atributos e valores das empresas. Os relatórios integrados  da Itausa e da Ambev são ótimos exemplos dessa união.

Ambas adotam o modelo da Global Reporting Initiative (GRI). Bastante difundido internacionalmente, ele é excelente para comunicar os impactos positivos e negativos sobre o meio ambiente, a sociedade e a economia. Há outros frameworks disponíveis, como o Sustainable Development Goals (SDGs), da ONU, cujo enfoque social é maior, ou o Sustainability Standards Board (SASB), que muda conforme o mercado de atuação da empresa. Toda essa diversidade, devo dizer, não é um componente facilitador.

Em busca de um só modelo

Na contabilidade, podemos traduzir framework como uma estrutura metodológica. Em quase todo o mundo, as companhias divulgam seus balanços financeiros conforme regras, fundamentos e princípios da International Financial Reporting Standards (IFRS). Assim, um investidor pode distinguir os números de uma empresa americana da mesma forma com que compreende os números de uma empresa brasileira.

O IFRS demorou em torno de 40 anos para ser discutido, acordado e amplamente adotado de forma global. Agora, com o ESG, é como se estivéssemos adornando o clássico framework dos princípios contábeis com uma roupagem moderna, expandida pelos diversos indicadores ESG e sintonizada com os anseios do mundo atual. Com sorte, esse framework global para o ESG não demorará outros 40 anos para se tornar um padrão de referência comparativa mundial.

Todos me parecem simpáticos à ideia de adotá-la. E a tendência, a meu ver, é que a própria IASB Foundation, por sua força política e por ter liderado com sucesso a consolidação de um único padrão contábil para a elaboração das demonstrações financeiras, assuma novamente esse papel norteador. Desta vez, para a adoção de um framework global vinculado a elaboração, mensuração e divulgação dos indicadores de ESG.

ESG claro e integrado

O ESG deve se consolidar ainda mais com um framework único – portanto, é ótimo que esse assunto já esteja à mesa. Com um padrão estabelecido, será mais fácil reportar e comparar índices, e essa transparência favorecerá empresas boas e sérias – que seguirão melhorando sob o olhar vigilante de seus stakeholders.

Portanto, caso você ainda não tenha começado, é chegada a hora. Comece se perguntando quem são os stakeholders e qual é o propósito de sua empresa. Esse é só o primeiro passo para adornar o clássico framework com um ESG de excelência.

Assista o vídeo sobre o movimento atual no mercado:

 

 

– Eduardo Luque

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